Quando observamos uma borboleta, percebemos de imediato a sua beleza externa, a aparência de suas asas quase nos hipnotiza, contudo muitas vezes ignoramos o interior da carcaça/escama que ela possui, o qual até apresenta traços sutis de uma vida “passada” de lagarta.
Se observarmos mais atentamente, perceberemos que este lindo resultado ocorreu-se de mudanças drásticas e – na maioria das espécies de borboleta – em um curtíssimo espaço de tempo, trata-se portanto de uma lutadora nata. As fases do ovo, larva, pupa (ou crisálida) e adulto dividem a vida da borboleta numa espécie de rupturas e transformações constantes e demonstram, sob um olhar mais minucioso e filosófico, o quanto a vida em si pode ser passageira e conter fases de grande relevância para que o amadurecimento ocorra.
A ordem catalogada a qual as borboletas e mariposas pertencem é a da lepidoptera, cujo significado etimológico é lépido=escamas e ptera=asas, deste modo “asas com escamas”. Se partirmos deste breve esboço e o compararmos à espécie humana, perceberemos que mesmo que não passemos por drásticas mudanças físicas como uma borboleta (res extensa na visão cartesiana)[1], a nossa mente (res cogitans) é lançada aos devaneios da vida sob brutais experiências às quais poderão proporcionar danos severos se não administradas com sabedoria e “borboletas no estômago” se bem vividas.
Deste modo, tornamo-nos “asas com escamas” diante da vida que mantemos em nós e que nos cerca e aos poucos teremos que nos desfazer das carcaças pelo caminho, aprendendo a enxergar a natureza da vida com mais prudência e empatia.
Tais acontecimentos normalmente permitem ao ser humano transportar toda a sua inquietude para o mundo ao seu redor, contagiando-o com tais transformações e consequentemente, adaptando-o para que o mesmo pertença ao mais tumultuoso sentimento/pensamento existente: o da ausência e da perca do controle das circunstâncias e até mesmo do tempo.
Diante deste cenário, o caos se estabelece e permeia os horizontes da inconstância, altera tudo a todo instante e permite a passagem do tempo como um grande vendaval, onde o novo não abandona necessariamente o antigo, apenas se refaz sob a “escama de larva” anterior.
Sob o aspecto social, a pós-modernidade naturalmente se “descamou” da modernidade e trouxe consigo uma nova visão de mundo, mais dinâmico, mais livre e cheio de novas oportunidades. Os novos valores que envolvem este período englobam ações e reações que por uma nova perspectiva poderão reforçar ou abandonar certas convicções. Formas de pensar, agir, sentir e perceber o mundo são apropriadas de “asas” que quase gritam para serem usadas de diversas maneiras.
À espera de um futuro insólito
Às vezes parece que nos sentimos satisfeitos pela ilusão de controlar o mundo sem necessariamente perceber que pertencemos a ele. O controle do tempo nunca foi tão incoerente como antes, os tempos da pós-modernidade deparam-se com anseios diferentes, mas que ao mesmo não extinguem a herança a qual carrega e até mesmo respeita.
Nesta medida, discutir qual tempo é melhor ou pior não é bem uma questão a ser levantada e sim o ato de perceber que houve a mudança e receber tal transitoriedade com bons olhos, afinal, as relações estabelecidas são mútuas, ou seja, apesar das diferenças um período complementa o outro. Como diria Nietzsche (1998, p.34): “Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si para poder dar à luz uma estrela dançante”.
Do tumulto surge assim a expressão e esta muitas vezes é na pós-modernidade incontrolável, tal qual as asas de uma borboleta, que não abandona a sua essência de larva, mas que se adapta à nova carcaça de formas inimagináveis. Inacreditável também é a forma que se dá a tantas mudanças que a sociedade enfrentou e enfrenta constantemente, traços de uma ruptura camuflada de perdas e ganhos, a favor do que poderemos ser, ou seja, que traz também uma esperança no devir e em todas as possibilidades desta condução.
O Eterno Retorno é o segundo tempo, o resultado do lance de dados, a afirmação da necessidade, o número que reúne todos os membros do acaso, mas também o retorno do primeiro tempo, a repetição do lance de dados, a reprodução e a reafirmação do acaso ele mesmo. (op. cit., p.32).
Permite-se assim, a modificação muitas vezes de ideais pautados no retorno, ou seja, confrontar opiniões, desistir, resistir ou mesmo insistir em verdades passadas, descobrir o que há por vir e permitir ao mesmo tempo resgatar certas convicções que foram sábias no passado e serão úteis no presente em construção. Para tanto, não há a entrega total à modernidade, pois esta sim é favor do eterno retorno por completo, porque assim manteria as tradições e não modificaria nada que estivesse ao seu alcance.
As vestes da pós-modernidade nada mais é do que o anormal e o insólito diante da tradição, os encontros que possibilitam uma viagem do/no tempo ou um sutil “bater de asas de uma borboleta”.
Para Prigogine (2002, p.08):
[...] a formulação tradicional das leis da natureza contrapunha as leis fundamentais atemporais às descrições fenomenológicas, que incluem a seta do tempo. A reconsideração do Caos leva também a uma nova ocorrência, a uma ciência que não fala apenas de leis, mas também de eventos, a qual não está condenada a negar o surgimento do novo, que comportaria uma recusa da sua própria atividade criadora.
A recusa a qual o autor se debruça nada mais é do que uma reconstrução dos acontecimentos, afinal cada fase tem o seu determinado tempo sem para tanto necessitar ser classificado como melhor ou pior que o anterior e a ausência desta verdade implicaria sumariamente na ignorância da própria identidade efêmera e muitas vezes indescritível.
As manifestações, assim sendo, são infindáveis, mas em sua maioria trazem cores a inúmeras estruturas, desde urbanas quanto psíquicas, capazes de provocar as mais sutis tradições e novas “combinações”, principalmente visuais, sobre as mais diferentes percepções de mundo e sobre o próprio mundo.
Como o vínculo entre o homem e a natureza é direto e esta é a base do trabalho visto por Marx, percebe-se também que:
Dizer que o homem vive da natureza significa que a natureza é seu corpo, com o qual deve permanecer em contínuo intercâmbio para não morrer. A afirmação de que a vida física e mental do homem e da natureza são interdependentes significa simplesmente que a natureza é interdependente consigo mesma, posto que o homem é parte da natureza. (Marx, 1962, p.106-10).
A partir deste pensamento, podemos perceber que para Marx, o homem e a natureza são um só e se a semente do futuro por algum determinado momento estiver nas contradições do presente a “ruptura” poderá também ser algo natural. Ao contrário de Maffesoli que critica o marxismo e que projeta essa transição como uma metamorfose, há uma descrença muito grande em relação ao futuro já que este é incerto e ao mesmo tempo improvável de uma rotina.
Não obstante, há nessas relações estabelecidas a busca pelo sentido que nos cerca e por nossa própria “identidade ilusória” e como é interessante o confrontar de pensamentos nesses autores. O trabalho, por exemplo, nesta visão marxista é visto como algo paradoxal na pós-modernidade, apesar de pertencer à natureza e a tudo que a transforma em si, ele muitas vezes encurrala o homem a perceber que está ligado a algo bem maior que a sua própria existência e reconhecer que as difusões e absorções deste processo são infindáveis.
O fato é que tudo ao nosso redor toma forma e às vezes até é capaz de nos enformar diante de padrões pré-estabelecidos, afinal, por mais que a sociedade seja transitória ainda tem raízes e sentido de existir por si só. Por isso é tão importante compreender os “tempos”, tanto de vida finita quanto de um caos eterno, já que somos circunstâncias únicas neste meio e de fato cada escolha será sempre a renúncia de um “vir a ser”.
Sob este ponto de vista, o sociólogo francês contemporâneo Maffesoli (2008, p.27), nos recorda que: “[...] o fim de um mundo não é o fim do mundo”. E, nesta busca por apropriação de conhecimento e identidade, que exige grande esforço/amadurecimento intelectual, percebe-se segundo o autor uma metamorfose de valores, tal qual uma borboleta (sob o aspecto físico). “Trata-se daquele vaivém entre o nomadismo e o sedentarismo, que constitui a aventura humana, entre o sim e o não na base de qualquer representação”. (MAFFESOLI, 2000, p.149).
Somos, portanto, seres transitórios e inconstantes, impulsionados a pensar a pós-modernidade como uma ordem lepidóptera que independente muitas vezes da nossa vontade e transforma drasticamente tudo o que a ela pertence, incluindo a nós próprios. Diante do ser humano e das suas construções sociais, as relações res cogitans poderão chegar facilmente à res extensa e num piscar de olhos, tudo se reconstrói, aquém do status quo[2].
Afinal,
Não havia flechas para o arco, mas não tem importância porque tampouco havia um alvo no qual atirar. Moderno e pós-moderno constituem, por enquanto, um vazio em relação ao qual (ou em direção ao qual) a pós-modernidade é uma flecha ausente. No entanto, é possível e é preciso aplicar tensão ao arco e dispará-lo: persistindo no ato, consegue-se imaginar o ruído do impacto. E não apenas o alvo é um vazio como o processo escolhido para atingi-lo, sendo talvez o único possível não poeticamente, não é de todo adequado à operação: tentar separar o que é do que não é pós-moderno não é uma atitude pós-moderna (ou moderna-pós-moderna), mas, apenas, moderna. (COELHO, 2011, p.256).
A modernidade nos tira o ócio criativo e ramifica a vida social, pois tenta definir tudo a todo o tempo. A individualidade das coisas é um discurso muito atraente do capitalismo, mas na prática há uma espécie de “cobrança social” que pode atingir o psicológico e assim prejudicar a própria liberdade do indivíduo em suas escolhas. A pós-modernidade, por sua vez, simplesmente é o que é, sem a necessidade de rótulos, sem segregações ou classificações, aquém de si e a favor do todo.
Contudo, o desafio da pós-modernidade é estar em equilíbrio em meio às constantes mudanças, trata-se de encarar o presente e as informações a todo instante e saber que elas podem ser passageiras. São as vicissitudes da própria vida, quase tão rápidas que a noção do tempo também já mudou e assim percebemos que as transições não comporta mais tanta paciência de muitos e ao mesmo tempo incorpora um amor infinito de outros.
Podemos dizer que a partir da concepção que determinada época faz da alteridade é que se pode determinar a forma essencial de uma dada sociedade. Assim, ao lado da existência de uma sensação coletiva, vamos assistir ao desenvolvimento de uma lógica da rede. Quer dizer: os processos de atração e de repulsão se farão por escolha. Assistimos à elaboração do que proponho chamar “sociedade eletiva”. (MAFFESOLI, 2000, p.121).
Os valores da pós-modernidade são diferentes dos da modernidade, contudo, nós estamos inevitavelmente imersos nessa cultura da sociedade pós-moderna e precisamos tão somente encarar tais acontecimentos com serenidade e compreensão senão nem mais a ilusão do coletivo teremos.
A “sociedade eletiva” é, portanto, o respeito às diferenças, a aceitação da condição do que é outro, sem restrições, julgamentos ou intervenções e ao mesmo tempo a compreensão de uma “sociedade formista”, ou seja, como Maffesoli (2000, p.121) mesmo diz: “de um pensamento que constata as formas, as configurações existentes sem querer criticá-las ou julgá-las”.
Este autor olha a epiderme social (como fenomenólogo que é) e depois adentra no interior do sujeito. Este é o segredo para se adaptar às circunstâncias e aprender sobre o novo de forma positiva e madura.
“O relativismo do qual se trata aqui consiste, portanto, em colocar em relação os diversos elementos da vida, e em considerar o fluxo vital, por definição, incessante. Elementos que tornam caducos os dogmatismos e favorecem a sensibilidade teórica que privilegia a humildade das coisas à pretensão dos conceitos. Assim, não se trata de ser “pós-moderno”, como se poderia ter esta ou aquela identidade, mas antes de utilizar uma palavra, simples noção, como o fermento metodológico mais adequado possível para compreender relações e fenômenos sociais ainda em estado nascente, mas dos quais é difícil recusar a importância quantitativa e qualitativa. Em resumo, vale mais ser sociólogo da pós-modernidade do que um sociólogo pós-moderno”. (MAFFESOLI, 2004, p.11)
Quando Maffesoli determina a relevância de ser um sociólogo da pós-modernidade ao invés de um sociólogo pós-moderno, ou de não se ter a pretensão dos conceitos, ele fala de uma transitoriedade da própria vontade de identidade que caracteriza o indivíduo constantemente, contudo que não necessita de pertencimento ao mesmo, afinal há uma mistura de formas no indivíduo, uma “permissão” de miscigenação de linguagens dependendo das circunstâncias e conjunções de opostos e onde o papel do sociólogo não é intervir neste mecanismo de organização e sim observar e analisar os resultados das relações estabelecidas como algo natural.
Somos, neste linear, uma espécie de “kit”, com aspectos de dinamismos cotidianos a partir de raízes arcaicas e devemos considerar somente tais características como algo identitário, sem necessariamente precisar catalogar como algo bom ou ruim, apenas cogitar que tais características são extremamente importantes e por tal fato devem ser administradas com cuidado e maturidade intelectual.
Presente, passado e futuro não seriam mais valores em si mesmos; nem haveria locais, topos ou linguagens privilegiados; menos ainda, centros de convergência: apenas, focos de dispersão. A visão diacrônica da arte iria para um segundo plano e em seu lugar surgiria uma visão sincrônica: tudo num mesmo tempo, sem sucessões. É a “arte da conjugação”. Uma arte da relação, e da relação do tipo e... e, não da relação ou... ou. O sistema da pós-modernidade abre-se como um buraco negro: tudo passa, tudo entra, tudo é aceito e tudo muda de qualidade no processo. Daí dizer o que é ou não é pós-moderno é fazer desse processo de conjunção, de coordenação, um processo de subordinação. Além de equivocação, um tanto inútil: a todo instante surgem ou podem surgir outras conjunções. Não é fácil apreender a natureza desse vazio do moderno-pós-moderno. (COELHO, 2011, p.256).
O fato de que muitas pessoas podem pertencer ou não aos mesmos pensamentos e ideologias e se identificarem diante dos adventos da vida, já demonstra que logo adiante, na transição moderno-pós-moderno há o estabelecimento de relações significativas com o meio e inúmeras produções artísticas e intelectuais.
As conexões destes pensamentos nos permitem transitar por várias expressões sociais: culturais, artísticas, literárias, cinematográficas, arquitetônicas, etc. Deste modo, as metamorfoses se expandem e demonstram que a passagem da modernidade para a pós-modernidade trouxe novos pontos de vista, novas dimensões existenciais e permitiu que enxerguemos a vida em si sob outros aspectos.
Desse ponto, é compreendido a analogia da borboleta ser o fundamento que norteia este artigo, a borboleta quando observada em sua forma atual (de adulta, plena e com asas), é capaz de transitar pelos mais diversos ambientes e contagiar tudo e a todos sem para tanto ter conhecimento do que lhe espera ou ao menos tentar classificar/definir o que necessariamente a envolve. Aprender a aceitar a realidade como ela realmente é também demonstra uma maturidade que não é tão fácil de ser conquistada, aquém de nossa natureza controladora sobre a vida e o tempo e os desejos que cercam tais áreas.
De toda maneira, sob qualquer denominação que se lhe dê (emoção, sentimento, mitologia, ideologia) a sensibilidade coletiva, ultrapassando a atomização individual, suscita as condições de possibilidade para uma espécie de “aura” que vai particularizar tal ou qual época. (MAFFESOLI, 2000, p.20).
O presenteísmo[3] desta sociedade é, portanto, uma espécie de plenitude ilusória, uma recorrência de se chegar a um estado onde não se haverá um futuro, onde a morte trata-se da única certeza que temos, mas também onde a vida que nos pertence nesse momento pode ser inimaginavelmente criativa e absurdamente encantadora.
Zygmunt Bauman é outro autor que fala sobre este período, contudo um autor mais nostálgico que idealiza e discute as complexidades da pós-modernidade sem para tanto assumir isso claramente, afinal seus pensamentos são irônicos e contundentes quanto aos valores sociais que se destacam. Tal pensamento reverte-se ao equilíbrio da própria transição do tempo.
O “derretimento dos sólidos”, traço permanente da modernidade, adquiriu, portanto, um novo sentido, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo alvo, e um dos principais efeitos desse redirecionamento foi a dissolução das forças que poderiam ter mantido a questão da ordem e do sistema na agenda política. Os sólidos que estão para ser lançados no cadinho e os que estão derretendo neste momento, o momento da modernidade fluida, são os elos que entrelaçam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas – os padrões de comunicação e coordenação entre as políticas de vida conduzidas individualmente, de um lado, e as ações políticas de coletividades humanas, de outro (BAUMAN, 2001, p. 12).
Não somos únicos e por constituirmos nossa essência também a partir das relações que estabelecemos, somos, de certo modo, “licenciados” a falar sobre as metamorfoses da vida pelo simples fato de acreditarmos que pertencemos de fato aos nossos próprios ideais de controle, quando na verdade abrimos flancos para novos discursos a todo instante.
Nesse “fôlego” de provocações filosóficas percebemos também que com a formalização das relações sociais e as complexidades do meio há uma mistura interativa de moralismos e cada discurso se apropria do que mais lhe convém. Mas nem tudo pode depender das nossas vontades.
Vontade – é este o nome do libertador e portador de alegria: assim vos ensinei, meus amigos! Mas, agora, aprendei também isto: a própria vontade ainda se encontra em cativeiro. O querer liberta: mas como se chama aquilo que mantém em cadeias também o libertador? ‘Foi assim’: eis o nome do ranger de dentes e da mais solitária angústia da vontade. Impotente contra o que está feito – ela é um mau espectador de todo o passado. Não pode a vontade querer para trás; não poder partir o tempo e o desejo do tempo – eis a mais solitária angústia da vontade. (NIETZSCHE, 1998, p.150-1)
Os encontros entre o homem e o mundo se estabelecem à mercê das nossas vontades, além do nosso desespero controle do tempo e da esperança de que tudo permaneça do mesmo modo, afinal o comodismo solidifica a angústia do passageiro e de certo modo elimina o medo perante as inúmeras circunstâncias que poderão nos atingir.
No fim das contas, percebemos de fato o tempo que se passou quando afirmamos que o mesmo é pertencente ao passado e que de nada o que fizermos o trará novamente à nossa ilusão de controle. “Batemos nossas asas” diante da realidade da vida e da fluidez do mundo, afinal a pós-modernidade não nos espera, ela já nos abrigou sutilmente, sem que nem ao menos tenhamos percebido as metamorfoses que passamos. Damos-nos conta, assim, que estamos simplesmente vivos, afinal as maiores e mais belas mudanças sempre serão tranquilas.
Considerações Finais
Certa vez, em um de seus poemas Rubem Alves (filósofo/poeta/pedagogo/psicanalista/teólogo) brasileiro disse: “Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”. Ele se referia à vida, numa analogia que talvez somente o autor pudesse fazer tão bem feito.
A todo instante somos surpreendidos por algo que não pertencia à nossa vida anteriormente, efemeridades drásticas ou sutis que podem modificar nossas percepções sobre o mundo e fazer com que tenhamos medo, por tal motivo a maioria das pessoas tem medo das mudanças, porque estas muitas vezes são incontroláveis e a natureza do homem sempre foi querer controlar as coisas que o cercam, incluindo o tempo e a própria vida.
A transição moderno-pós-moderno trouxe ao homem o enfrentamento destes anseios, a realidade de algo instável e até mesmo desconfortável e a possibilidade de fazer diferente algo que até então ele via como tradição, sem nem ao menos saber o motivo disto.
Inúmeros são os autores que tentam nos explicar como este novo período se consolidou e nos encurralou a sermos livres de fato, sem as amarras do passado e nos desvestindo de velhos hábitos, contudo, tal qual as metamorfoses de uma borboleta, fomos modificados a perceber a fluidez do mundo, a apreciar o novo como ele realmente é, novo, simplesmente, sem classificações entre bom ou ruim, bonito ou feio.
A alteridade torna-se, assim, a palavra que define os momentos de metamorfose e juntamente com a inquietação também transita de uma geração à outra, pois possibilita que o estranho se torne “normal” e que nos habituemos não mais a algo estável e sim ao passageiro, que transita quase sem perceber nas “tribos” do mundo que o cerca.
Compreender tais influências e identificar as suas essências, sem para tanto catalogá-las é o propósito da condição pós-moderna existencial e como diria Raul Seixas, de toda uma “metaformose ambulante”.
Por fim, tentou-se resgatar as instabilidades da pós-modernidade, algumas definições que nos proporcionam enxergá-la ainda mais como algo mutável e a propulsão de indefinição também dos valores que antes eram determinados e neste período tornaram-se indeterminantes.
Neste aspecto, numa espécie de “filosofia da natureza”, observou-se as necessidades humanas naturais e querer controlar a própria natureza e de transformar o “caos” que o cerca, e assim, “a amplidão ou limitação dos sentidos se dá em função da história” (MARX, 1962, p. 142).
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
COELHO, Teixeira. Moderno pós moderno: modos & versões. São Paulo: Iluminuras, 2011.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém. Tradução Paulo Osório de Castro. Prefácio de Antônio Marques. Relógio D’água Editores, março de 1998.
PRIGOGINE, Ilya. As leis do Caos. São Paulo: Unesp, 2002.
MAFFESOLI, Michel. Elogio da razão sensível. Trad. Albert C. M. Suckenbruck. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2008.
________________. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 1962.
N O T A S D E R O D A P É
[1] O filósofo René Descartes (1596-1650), apesar de discutir sobre temas pertencentes ao período medieval e antigo, é considerado um dos principais pensadores da filosofia moderna, uma vez que renova inúmeros conceitos e trabalha sob o aspecto do “eu pensante”, distinguindo a vida humana (sob uma ótica um tanto quanto platônica-agostiniana) em dois âmbitos: a res extensa (corpo) e a res cogitans (alma, pensamento).
[2] Esta expressão latina que significa: “o estado das coisas”, é tida neste momento como uma representação às tradições da modernidade e suas relutâncias para que tudo permaneça como está, ou seja, da mesma forma que sempre foi, numa espécie de “dejá vu” do tempo ou de um “eterno retorno”.
[3] Presenteísmo é tido neste artigo em sua essência, ou seja, como o nome que se dá a um corpo presente (muitas vezes no ambiente de trabalho), mas sem produção. Deste modo a mente não pertence à situação, ele está em outro âmbito, quase que distinta do corpo e de suas funções.